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Depoimento sobre agressão contra mulher no Barouche


O estabelecimento fica no centro de São Paulo, e a violência partiu do segurança do próprio bar e de sua esposa, em meio a uma atmosfera de ódio e repressão policial. A agressão foi motivada por uma discussão política sobre a postura da polícia militar. Abaixou, segue o depoimento da Jéssica:

Hoje, 30 de Agosto de 2016, fui agredida pelo segurança do Barouche e sua esposa. Enquanto a manifestação passava, eu e ela debatíamos sobre política, ela a favor da polícia, eu contra. Um debate verbal. Até aí, nenhum crime. Depois da manifestação, ela veio tirar satisfação e continuamos discordando por questões políticas. Até aí, problema nenhum. A questão é que algum tempo depois ela reapareceu, junto dele, e me agrediu. Meu amigo tentou nos separar e o segurança o afastou, para impedir que a briga acabasse. Briga da qual nunca quis fazer parte, com uma estrutura de ferro que se assemelhava a um taco do golfe: uma arma branca. Ele disse depois que estava usando para proteger o bar dos manifestantes. Ele, um segurança, com uma arma. Já não bastasse a Polícia Militar com tanques, agora a sociedade civil decide ter armas para se “proteger” dos manifestantes.

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"Meu amigo tentou nos separar e o segurança o afastou, para impedir que a briga acabasse. Briga da qual nunca quis fazer parte, com uma estrutura de ferro que se assemelhava a um taco do golfe: uma arma branca".

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Preciso, novamente, dizer que ele é o segurança do Barouche, vizinho do dono. Em nenhum momento, me perguntaram se eu estava bem. Claro, eu devia ter pedido aquela agressão, algum motivo eu tinha pra estar apanhando. Óbvio. Foi só um mal-entendido, como todos, como sempre. Como quando o amigo dele veio tentar “apaziguar” e me chamou de linda e, ao ficar nervosa, de novo, eu estaria exagerando, mulher não pode falar palavrão para um homem. Eu devia apanhar calada. Ser chamada de linda por alguém do grupo que acabara de me agredir e ainda aguentar calada. As mulheres que estavam no bar disseram que eu tinha que ficar calma, que as pessoas bebem — afinal afinal aquilo é um bar — e isso acontece mesmo. Justificar que mulher apanha por bebida e que isso acontece mesmo?

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"Foi só um mal-entendido, como todos, como sempre. Como quando o amigo dele veio tentar 'apaziguar' e me chamou de linda e, ao ficar nervosa, de novo, eu estaria exagerando, mulher não pode falar palavrão pra um homem. Eu devia apanhar calada. Ser chamada de linda por alguém do grupo que acabara de me agredir e ainda aguentar calada".

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Mas o segurança nunca é agressivo, que estranho, disse o dono do bar Marcel Steiner, que em nenhum momento conversou comigo, nem me pediu desculpas. Ele só falou com o meu amigo e pediu que eu não chamasse a polícia. A mesma polícia que minutos antes passou ali truculenta com bombas de gás lacrimogêneo e ele que achou aquilo lindo: disse que era um ótimo espetáculo para quem estivesse no bar dele assistir e ainda chamou a agressão dos policiais de performance.

Como ser mulher nessa cidade e ter que aguentar todo tipo de agressão, e ser sempre só um mal entendido, um pedido de desculpas não resolve? Pra que polícia?! Polícia é pra manifestante, polícia é pra garantir a ordem. A arma foi só um mal entendido também.

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"Ele só falou com o meu amigo e pediu que eu não chamasse a polícia. A mesma polícia que minutos antes passou ali truculenta com bombas de gás lacrimogêneo e ele que achou aquilo lindo: disse que era um ótimo espetáculo pra quem estivesse no bar dele assistir e ainda chamou a agressão dos policiais de performance".

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Agora, me explica, pra que abrir um bar no Centro da cidade se for pra blindá-lo do centro com um segurança armado? E como não se responsabilizar pela violência que esse segurança cometeu? Porque é assim, a gente é culpada de tudo, da briga, da manifestação. A violência é culpa do outro, não do meu muro cada vez mais alto, não do meu segurança armado que contratei pra garantir a ordem e que deixo sentado à paisana num parklet — num espaço público, para proteger meu espaço privado, com um taco de golfe a tiracolo. A culpa é do outro, já nem pedir desculpas eu consigo! É só uma briga, eu sou uma exagerada, eu sou mulher e histérica. O que você fez, querida, pra apanhar desse jeito?

Pois é assim que a cidade é feita. E é assim que a violência continua. O que eu quero é uma cidade com mais manifestantes e menos seguranças, menos PM na rua, menos donos de bar descolados, menos barouches.

Marcel Steiner, teu champanhe não vai te proteger da sua hipocrisia.

Obs.: após publicação de uma nota de repúdio por parte do museu do louvre pau-brazyl, do qual a Jéssica é integrante, o Barouche entrou em contato com ela, não dizendo como conseguiram seu número de telefone. O bar deu a entender que não fosse feita uma queixa na delegacia da mulher, se recusando a passar o nome do segurança ou de sua esposa.

Jéssica Varrichio é antropófaga no museu do louvre pau-brazyl.

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