top of page

Em defesa da astrologia


Eu mesma às vezes me incomodo com essa minha “crença” em astrologia. Aos extremamente céticos, e a mim mesma, as palavras a seguir:

Há quem acredite na Veja, na Globo, em meritocracia (ignorando questões de classe, raça, gênero, orientação sexual), e que os governos petistas foram ditaduras comunistas. Mas se formos críticos e céticos ao extremo, nem na ciência é possível acreditar: observando a História, veremos que teorias em algum momento vistas como certezas, hoje em dia nos soam como folclores risíveis. Ou não é preciso ir nem muito longe: se compararmos artigos científicos dos últimos 10 anos, verificaremos que muitos se retificam ou se contradizem (o ovo faz mal ou não? E a manteiga, faz bem ou mal? E a carne?). Ainda porque, muitas dessas pesquisas são encomendadas por empresas que as usarão como peças publicitárias, e não iriam querer críticas aos seus produtos.

Pois diante de um mundo vazio de verdades absolutas e inquestionáveis, que mal haveria na astrologia? “Ah, se já tem tanta desinformação, pra que fomentar ainda mais essa?!” Assim. A astrologia é um estudo mais antigo que o Cristianismo, que inclusive influenciou o mesmo. Bem como o fizeram outras crenças e costumes pagãos. Desculpa, cristãos que discordam.

Mas é meio que verdade. A astrologia surgiu a partir de observações minuciosas dos astros, da sua relação com elementos da natureza, e com os seres vivos. Pode ser tudo só um amontoado de achismos? Talvez. Mas quero lembrar que na Antiguidade não havia Facebook, Instagram, televisão com Masterchef, e que eles eram, sim, muito mais observadores diante da natureza do que eu ou você. Ô pretensãozinha de acharmos que a nossa época, a nossa sociedade, o nosso nicho guarda verdades que todos que não são NÓS ignoram, né?

Inclusive nem estou defendendo a astrologia como um preceito inquestionável. Acho que isso ficou claro. E eu mesma fui me interessando pelo assunto gradualmente, por meio de observações e comparações entre diferentes pessoas e seus respectivos signos. “Ah Lis, como você é quietinha!” Pois é, é porque eu, inclusive, ouço e observo as pessoas. Já morei em hostel e dividi república com muitas, muitas pessoas diferentes. Nunca achei relações humanas algo simples e, talvez por isso, tenha me empenhado tanto pra compreendê-las melhor. Então posso dizer que essa minha “crença” astrológica tenha algum embasamento empírico, analítico e crítico? Sim. Rs não que eu tenha empregado o ~método científico cartesiano~, mas eu também não acordei, num belo dia, vi o meu horóscopo e achei que era verdade porque estava escrito no jornal. Ainda porque, astrologia vai muito além de horóscopo de jornal, ou descrição de características do signo solar. Existem muitas variáveis que determinam sutilezas e nuances comportamentais. Quando, inclusive, tentei me aventurar em estudos mais aprofundados sobre o assunto, vi que envolvia umas complexidades com as quais eu não estava disposta a lidar, envolvendo astronomia e matemática. E a psiqué e as relações humanas. Então, é óbvio que algo que envolva ciências tão distintas, cujos meandros eu não seja capaz de compreender, deve ser uma farsa, né!

(exemplo de mapa astral em toda a sua complexidade)

Mas, vamos supor que seja, mesmo, um monte de falácia sem qualquer embasamento científico real. Haveria tanta gente acreditando nessa bosta se ela não suprisse uma demanda ideológica real? As linhas que dividem os países, embora imaginárias, não seguem uma crença coletiva e uma força simbólica que as tornam reais?

Enfim. Descrentes fanáticos me incomodam tanto quanto crentes extremistas. Parte de mim também acha essa “crença” astrológica coisa de gente trouxa de humanas, mas subestimar crenças é uma das coisas mais estúpidas que se pode fazer. A questão não é constatar o quão essencialmente verdadeiras elas são, mas sim perceber a força social e mobilizadora que elas possuem.

Preconceito ideológico = burrice.

 

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page