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Olhe para sua mãe. Quem você vê?

Morei com meus pais em cidade no interior até os dezessete anos quando passei na USP e me mudei pra São Paulo. Anos antes minha irmã havia se formado em direito na faculdade particular de nossa cidade e veio para São Paulo, nessa época minha mãe não conseguia falar com ela no telefone, sua garganta apertava e as lágrimas vinham. Nós criamos os filhos para o mundo, dizia meu pai, mas o meu mundo são meus filhos, pensava minha mãe.

Essa mudança da minha irmã para São Paulo fez com que a minha mãe aprendesse a usar a internet, assim elas podiam conversar pelo MSN. E também ensinou minha mãe a viajar pra São Paulo, em poucos dias ela aprendeu a andar pelo centro, na Liberdade e na 25 de Março. O metrô e a violência da cidade não assustavam mais - É só não pensar que estamos debaixo da terra e andar com a bolsa bem colada no corpo - ela dizia.

Com a internet e o centro da cidade na palma da mão minha mãe pesquisava sobre artesanato e descobriu lojas que vendiam tecido barato, daí para abrir uma loja foi questão de tempo.

Agora é a minha vez. Estudante de letras na USP e militante feminista em São Paulo, no interior ainda era a filha caçula que dava aula de catequese na escola. Chegou uma hora que o machismo da religião era mais forte do que o sentido de religare e as problematizações começaram:

[if !supportLists]- [endif]Porque a única representante mulher da Igreja é chamada de Virgem antes do próprio nome?

[if !supportLists]- [endif]Porque mulher não pode ser Papa?

[if !supportLists]- [endif]Porque a gente acredita tanto em livro que deve ter sido editado dez milhões de vezes?

Então me vi como a rebelde da família, não me depilar era rebeldia, não ir à missa era rebeldia, problematizar o machismo da família era rebeldia. Um dia minha mãe veio conversar comigo, naquela conversa eu entendi que ela não queria me ‘corrigir’ ou me dar bronca, ela só estava preocupada. Preocupada porque ela sabia o tamanho da briga que eu estava comprando. Minha irmã e eu conversamos muito sobre feminismo e fazemos o que está ao nosso alcance para construir o movimento. Nem sempre conseguimos agir dentro do que está ao nosso alcance, às vezes é mais fácil lutar por quem está lá fora na internet. Lutar na família dói, mas talvez seja esse o novo aprendizado da minha mãe e o maior desafio do mundo pra mim.

Nós falamos tanto de representatividade, mas que mulher vemos na nossa mãe? Nós falamos tanto de empoderamento, mas será que empoderamos nossas mães? Nós falamos tanto de sororidade, mas será que somos capazes de ter esse mesmo olhar pra ela?

Autora:

Leila Satin

Vim do interior para realizar o sonho de estudar em São Paulo e no final descobri que esse é só o começo da viagem. Criei o blog Oficina Põe no Papel, pois na palavra escrita me resolvo e me descubro.

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