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Bela, recatada e do lar? Aqui não

Na última semana, nossa excelentíssima quase primeira dama protagonizou uma matéria deplorável naquela revista semanal cultuada por muitos, chamada “Veja”, em que mais uma vez a mídia brasileira não se cansa de ser machista e enaltece como principais características de Marcela Temer o fato dela ser “bela, recatada e do lar”, diminuindo qualquer mulher que não cumpra com esses maravilhosos e tão atuais requisitos.

Logo a internet se manifestou e foi criada a #belarecatadaedolar em que mulheres postavam fotos que mostravam o contrário disso. Foram postadas fotos no bar, com as amigas em situações engraçadas, nudes, e tudo mais que foi possível para mostrar que as mulheres podem ser e são muito mais do que isso, são LIVRES e a cabe a elas ser o que quiserem e merecem ter seu valor.

Seguindo o movimento de resposta, listo aqui três artistas brasileiras na contramão do bela, recatada e do lar, que foram de extrema competência em suas áreas e deixaram um legado que prova que não precisa de beleza e recato, precisa sim é de talento, profissionalismo e que é justamente fora do lar, na rua, no mundo que é o lugar de sua arte.

Aracy de Almeida - A bela

Conhecida por muitos como a jurada feia e ranzinza do Programa Silvio Santos, Aracy de Almeida estava longe do padrão de beleza da época, tinha cabelos encaracolados e curtos, usava óculos escuros, calça, camisa e com voz única e cara de poucos amigos, em nada se assemelhava as misses tão cultuadas naquele tempo.

Mas Aracy vai muito além desse rótulo pobre que lhe é dado, Aracy foi uma das maiores sambistas desse país, queridinha por Noel Rosa, sendo apontada por ele como a principal interprete de suas obras.

"A memória que ainda guardam dela é equivocada", observa o cineasta mineiro Aleques Eiterer, diretor do filme que resgata a história de Aracy na música brasileira.

"Ela era muito inteligente, articulada, uma mulher à frente do seu tempo, em uma época em que só havia muitos cantores. Enfrentava o machismo de igual para igual, não se abalava."

Aracy e seus sambas foram a marca da musica brasileira pré bossa nova e merecem todo o respeito.

Dercy Golçalves - A recatada

Dolores Gonçalves Costa, mais conhecida como Dercy Gonçalves, foi uma das maiores atrizes que esse país já viu em cena. Com origem no teatro de revista, Dercy foi além de atriz, cantora e humorista, tendo papel fundamental na história do cinema nacional das décadas de 50 e 60.

Dercy está no Ginness Book como a atriz com maior tempo de carreira na história mundial – 86 anos.

É lembrada pelo grande público por ser uma mulher desbocada, sempre irreverente e com palavrões na ponta da língua. Dercy nunca se deixou intimidar pela opinião pública quanto a sua conduta e seu palavreado, e acabou conquistando o coração de todos os seus espectadores, que entenderam seu bom humor e espontaneidade.

Leila Diniz - A do lar.

Começou sua carreira no teatro e logo migrou para TV e cinema. Anos depois se tornaria vedete e ressuscitaria o teatro de revista, recebendo das mãos de Virgínia Lee o título de Rainha das Vedetes.

Mas foram suas entrevistas sempre muito sinceras e seu comportamento muito a frente do seu tempo que lhe renderam fama nos anos 70 e 80.

Leila falava de sua vida pessoal sem nenhum tipo de vergonha ou constrangimento. Concedeu diversas entrevistas marcantes à imprensa, mas a que causou um grande furor no país foi a entrevista que deu ao jornal O Pasquim em 1969.

Nessa entrevista, ela, a cada trecho, falava palavrões que eram substituídos por asteriscos, e ainda disse “Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo.”.

Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquíni na praia, e chocou o país inteiro ao proferir a frase “Transo de manhã, de tarde e de noite.”.

Entre outras frases polemicas de Leila Diniz, estão:

“Sobre a minha vida, meu modo de viver, não faço o menor segredo. Sou uma moça livre.”

“A mulher brasileira deveria ir menos ao psicanalista e mais ao ginecologista.”

“Não sou contra o casamento. Mas, muito mais do que representar ou escrever, ele exige dom.”

“Eu posso dar para todo mundo, mas não dou para qualquer um.”

Todo o respeito à Aracy de Almeida, Dercy Gonçalves, Leila Diniz e à todas as mulheres livres, desbocadas e do mundo, que tanto nos inspiram.

Carolina Balza: Estudante de Produção Cultural, 24.

Se desconcentra no silêncio.

Ainda acredita na humanidade, mas prefere gatos e livros.

Vai de Alcione a Björk em um minuto.

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