top of page

Uma aula sobre representatividade, com a Marley, de 11 anos


Em meio ao caos que está nosso país e a estafa social e política a qual ninguém está imune, abrir os jornais, revistas, sites e encontrar uma boa notícia tem sido missão árdua, porém, essa semana me deparei com uma incrível, que muito me chamou a atenção. Não é no Brasil, mas é um alento social, que mostra que as novas gerações vem chegando para dar um baile nessa sociedade toda errada da atualidade.

Hoje eu conto a história da Marley Dias, uma garota de 11 anos, que vive em New Jersey, EUA, e que, cansada de em todos os livros ler histórias sobre “garotos brancos e seus cachorros”, como ela mesma define, resolveu começar um desafio: reunir 1000 livros cujas personagens principais fossem meninas negras.

Para isso, em novembro do ano passado, com a ajuda de sua mãe, começou a campanha na internet com a hashtag #1000blackgirlbooks (1000 livros de garotas negras).

Em entrevista, ela diz “Eu estava na quinta série e fiquei frustrada porque só líamos livros sobre garotos brancos e seus cachorros. Daí, eu falei com a minha mãe e ela disse: ‘ok, mas o que você vai fazer sobre isso?’ E eu decidi que ia colecionar mil livros” (...) “Não me entenda mal, eu gostava daquelas histórias, eu só queria algo que eu pudesse me relacionar com”.

Representatividade. Era só isso que Marley buscava e não encontrava. Por sorte a menina tem uma mãe incrível que lhe deu a melhor resposta, tirando a menina da vitimização do problema e a trazendo a ideia de que ela poderia ser modificadora daquela realidade, só dependia dela, ter uma boa ideia e coloca-la em pratica. Duas maravilhosas!

Como membros de uma sociedade, é de extrema importância que possamos nos reconhecer em algo, algum grupo social, quase que de forma inconsciente é isso que buscamos na roupa que vestimos, nos gostos musicais, em nossas atitudes (além da satisfação pessoal, sempre há uma necessidade de enquadramento, seja em uma macro ou micro esfera social, o ser humano precisa conviver, trocar entre si e pra isso busca seus semelhantes) e os meios que nos comunicam isso são fundamentais para criar essas ferramentas de identificação, principalmente em nossa formação.

E uma das principais ferramentas nesse processo é a cultura. É a partir de livros que lemos, filmes que assistimos, posturas sociais que adotamos, comidas que comemos que nos identificamos como indivíduos e logo em seguida buscamos nossos pares para nos inspirarmos, trocarmos, relacionarmos e principalmente nos identificarmos e não sentirmos a exclusão social, infelizmente, ainda tão presente.

Marley surge, no auge de seus 11 anos, em plena formação como ser humano e cidadã, para nos mostrar a importância dessa representatividade e identificação social. Sua mãe conta que no começo foi difícil, recebendo apenas algumas doações, mas após a mídia dar a devida importância ao movimento e jornais e revistas publicarem seu desafio, os livros começaram a chegar.

Hoje já são mãos de 4000 livros (com um índice online em que é possível conhecer 700 deles), muitos dos quais Marley e a Grass Roots Foundation (que ajudou ativamente da coleta e organização dos livros) doaram para a antiga escola da garota, além de outros colégios nos EUA e na Jamaica, onde Janice, a mãe de Marley, nasceu.

A menina conta “Eu fiquei orgulhosa de mim por ter conseguido atingir o objetivo e depois ultrapassa-lo. E mil era um número grande para mim, porque eu só tenho 11 anos.”.

Janice, sua mãe, completa “Acho que nós não tínhamos noção do dilema internacional que é essa questão da falta de diversidade e a Marley teve a chance de dar voz a um desafio que muitas pessoas preferem não falar”.

Entre os preferidos da sua, hoje, enorme coleção, ela destaca “Brown Girl Dreaming” (sem tradução para o português), que conta a história de uma menina afroamericana criada no sul dos EUA entre os anos 60 e 70 em um contexto de segregação racial, tudo isso em forma de poemas.

Marley tem o projeto de criar um clube de leitura de livros sobre garotas negras e sua ideia é que as participantes leiam um livro durante as férias e depois o discutam por Skype.

“São livros sobre garotas negras, mas, na verdade, os livros são para todas as pessoas que quiserem ler e você pode aprender muito neles sobre racismo e cultura.” diz Marley.

MARAVILHOSA, apenas.

Um sopro de esperança em uma sociedade tão errada como a nossa.

Carolina Balza: Estudante de Produção Cultural, 24.

Se desconcentra no silêncio.

Ainda acredita na humanidade, mas prefere gatos e livros.

Vai de Alcione a Björk em um minuto.

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page