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a alegria de ser como as outras


"Você não é como as outas", eles diziam.

"Você é diferente. Tipo um dos caras", eles completavam.

Ahhh que sensação maravilhosa! Eu era um floquinho de neve especial…eu era diferente.

Ser "um dos caras" era ser livre, descolada, sem frescura, sem caderninhos rosas, segredinhos e risadas agudas. Era ser diferente das outras.

Que outras? Sei lá, todas as outras. O que importa é não ser igual.

A verdade é que essa sensação de não ser uma das outras é apenas isso: uma sensação. É uma forma de isolamento, de colocar tudo em caixinhas, de não pertencer.

Com a maturidade e várias rasteiras e tapas da vida, percebemos que as coisas não são bem assim. As outras sou eu e eu sou as outras.

Somos nós. Todas. Tão diversas, tão únicas e tão iguais. Presas numa luta que nem sabemos como começou. Ahhh sim, nos lembramos, começou com a ilusão de ser única.

Querer ser "um dos caras" é querer a liberdade que o mundo dá pra eles. O não julgamento, as poucas regras, o poder ser o que quiser, andar tranquila pela rua, ir à festas sem ter que fazer mil planos e esquemas para se livrar de babaca e voltar em segurança pra casa, é poder falar o que quiser sem parecer metida e viver com menos nãos.

E aí a gente cresce e percebe que é muito injusto que só "os caras" possam ter isso e que não, você nunca foi um dos caras porque, por mais livre e desencanada, que fosse, esses nãos e preocupações sempre fizeram parte da tua vida. Você vira pro lado e percebe que "as outras" passam pelo mesmo dilema que você e outros ainda piores. E que não é EU X ELAS, somos nós.

Que maravilha é quando nos damos conta disso. É desesperador perceber o quanto temos que lutar, mas é acolhedor saber que não somos mais um floquinho de neve especial e solitário. Que "elas" estão alí, com as risadas finas, os segredos, os abraços e o acolhimento.

Que não precisamos ser "um dos caras" pra encher a cara de cerveja, falar sobre sexo, viajar sozinha, gostar de filmes de ação e querer ser astronauta.

Descobri que sou como as outras (todas tão diferentes entre si) e hoje minha mesa de bar, minhas mensagens no whatsapp, minha estante de livros, minha lista de filmes estão tão lotadas delas e isso me deixa muito feliz. Me sinto pertencendo e nada mais bonito do que pertencer.

Mila Coutelo

Roteirista e idealizadora do Lugar de Fala.

Acha que se a gente se unir bem unidinho,

podemos mudar o mundo. Ou, pelo menos,

melhorar um pouquinho.

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