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Licença, DiCaprio

Segunda-feira à noite aconteceu a cerimônia do Oscar, maior premiação do cinema mundial e um daqueles eventos em que a internet entra em colapso criando 20 memes por minuto e não deixando passar uma. Dessa vez não foi diferente. Hoje só se fala em Leonardo DiCaprio que finalmente levou seu homenzinho dourado tão sonhado e na maravilhosa Gloria Pires que movida de muita sinceridade e seriedade rendeu memes ótimos com seus comentários sucintos e meio blasés. Porém venho aqui pedir licença a esses destaques para falar das mulheres que brilharam na noite passada, e não foram poucas.

Infelizmente, a imprensa (ainda) quando fala sobre mulheres nas premiações, em 95% das publicações (sendo otimista) o assunto é o vestido que era ótimo ou péssimo, a maquiagem, o sapato, o marido, ... O talento, mérito, trabalho sempre ficam em segundo plano, quando citados.

Então, para tentar mudar um pouco essa triste realidade aqui vai uma listinha com as mulheres incríveis do Oscar 2016:

Alicia Vikander – vencedora na categoria Atriz Coadjuvante pelo filme “A Garota Dinamarquesa”

Há quem diga que Alicia foi indicada como atriz coadjuvante para não ter como a academia deixar de premiá-la pela ótima atuação em “A Garota Dinamarquesa”, uma vez que muitos defendem que de coadjuvante seu papel não tem nada, é sim o principal. No filme Alicia interpreta Gerda, esposa de Lili Elbe, a primeira transexual a passar por uma cirurgia de redesignação genital.

A atriz sueca é uma das revelações do último ano, tendo atuado recentemente em filmes de sucesso como “Ex-Machina” e “O Agende da U.N.CL.E” (ambos de 2015).

Jenny Beavan – vencedora na categoria Figurino pelo filme “Mad Max: Estrada da Fúria”

Responsável pelo figurino do filme “Mad Max: Estrada da Fúria”, Jenny Beavan levou a estatueta pelo ótimo trabalho. O filme (incrível, empoderador e merecedor de tantos prêmios) mostrou que não era só na frente das câmeras que as mulheres estavam no comando.

Jenny já havia sido indicada NOVE VEZES ao Oscar na categoria figurino e tinha vencido uma vez (em 1986).

Apesar do seu trabalho incontestável (NOVE VEZES INDICADA, lembrando), na cerimônia desse ano Jenny viveu um momento um tanto quanto constrangedor, porém “natural”, nessa sociedade estereotipada e careta em que vivemos. Ao vencer o prêmio de melhor figurino não foi aplaudida por muitos por “não ser reconhecida por suas vestes muito simples”, como justificaram. A inglesa vestia jaqueta de couro e calça jeans, e ao ser questionada sobre a escolha de seu figurino, respondeu lindamente:

"Estou muito feliz em falar sobre isso. Não sou de vestidos e absolutamente não sou de saltos, tenho problemas nas costas. Fico ridícula em um vestido lindo. Essa foi uma homenagem a 'Mad Max' (...). [Essa jaqueta] é Marks & Spencer com [bordado] Swarovski nas costas. Tive um problema no sapato e o glitter caiu. Estou me sentindo confortável e, até onde percebo, estou realmente arrumada!"

RAINHA!

Lesley Vanderwalt e Elka Wardega – vencedoras na categoria Maquiagem pelo filme “Mad Max: Estrada da Fúria”

Na companhia de Damien Martin, Lesley Vanderwalt e Elka Wardega venceram na categoria Maquiagem pelo (ótimo, insisto) “Mad Max”.

Lesley é da Nova Zelandia e já trabalhou como maquiadora em filmes como “Moulin Rouge”, “Star Wars: Episodio II – O Ataque dos Clones” e “O Grande Gatsby”. Essa foi sua primeira indicação ao Oscar.

Elka é uma maquiadora australiana especialista em “prosthetic makeup” (também chamada de maquiagem de efeitos especiais). Trabalhou em filmes como “Moulin Rouge”, “Star Wars: Episodio II – O Ataque dos Clones” e “As Cronicas de Nárnia”. Em 2016 foi sua primeira indicação.

Margaret Sixel – vencedora na categoria Montagem pelo filme “Mad Max: Estrada de Fúria”

Mais uma das vencedoras por “Mad Max” (que levou seis estatuetas), Margaret trabalhou em filmes como “Babe: Um Porquinho na Cidade” e “Happy Feet” como editora. Recebeu sua primeira indicação ao Oscar como “Mad Max”.

Margaret disse recentemente em uma entrevista que não considera importante a questão de gênero no seu trabalho, disse que lida diariamente com uma equipe grande de editores homens e que faz isso com muita naturalidade. Hoje sua equipe é formada 25% por mulheres, percentual relativamente grande na área de edição.

Brie Larson – vencedora na categoria Melhor Atriz pelo filme “O Quarto de Jack”

Brie Larson venceu o Oscar de melhor atriz por "O Quarto de Jack". A atriz já era cotada como favorita para a categoria por ter faturado com o papel prêmios no Globo de Ouro, Bafta e Critics Choice Awards, entre outros.

Baseado no romance "Quarto", de Emma Donoghue (que também assina o roteiro), "O Quarto de Jack" é narrado pelo ponto de vista limitado do garoto que nasceu nesse cômodo e de lá nunca saiu. Sua relação com a mãe (encarcerada e abusada pelo seu próprio pai), então, é ainda mais próxima do que a de uma criança em condições normais.

Brie protagonizou uma das cenas mais delicadas da premiação quando ao final da apresentação de Lady Gaga (que ainda será comentada aqui) fez questão de abraçar uma a uma das vítimas de abuso sexual que estiveram no palco.

“Amy” – vencedor na categoria Documentário

Este ano, a vida de duas mulheres incríveis disputava o prêmio na categoria Documentário, “What’s Happened, Miss Simone?” sobre a vida e obra de Nina Simone e “Amy” que conta a trajetória de vida e carreira de Amy Winehouse. “Amy” venceu!

Pessoalmente não tenho palavras para escrever sobre “Amy”. Desde quando o assisti no cinema, ao lembrar dele me vem um nó na garganta e uma tristeza muito grande. É um documentário para os fortes e é impossível passar por ele indiferente. Te tira o chão. E mereceu, e muito, o prêmio.

Amy, uma grande mulher, talentosíssima, vítima de mais de um relacionamento abusivo, com seu namorado degradante e seu pai interesseiro e sem um pingo de bom senso.

Seu legado é eterno.

"A Girl in the River: The Price of Forgiveness" – vencedor na categoria Documentário em Curta-Metragem

O documentário trata do feminicídio muito comum no Paquistão. Por ano mais de 1000 mulheres são mortas no país em nome da honra e é sobre isso que a documentarista Sharmeen Obaid-Chinoy retratou nesse curta.

Ele conta a história de Saba, uma paquistanesa de 18 anos que em 2014 se casou com o homem que amava contra a vontade de sua família e por isso sofreu as consequências.

Saba foi amarrada, colocada dentro de uma sacola e jogada em um rio, por seu pai.

A documentarista, então, tomou para si a difícil tarefa de problematizar este tipo de violência -- que é naturalizada no país -- e contar a história sob a perspectiva de uma sobrevivente, diferente do que fazem os jornais locais.

E fez isso muito bem.

A repercussão do filme foi tão positiva que provocou discussões no Paquistão -- o que levou o primeiro ministro, Nawaz Sharif, prometer medidas que ajudem a combater esse tipo de crime.

Nem só de vencedoras maravilhosas foi feito esse Oscar. É impossível não comentar a apresentação lindíssima da Lady Gaga, que concorria na categoria Melhor Canção Original pelo filme “The Hounting Ground” que conta o drama dos estupros em universidades americanas.

Lady Gaga levou ao palco vítimas de abusos sexuais e provocou lágrimas na plateia hollywoodiana com uma apresentação forte, comovente e muito importante. Ninguém mais deve se calar a respeito de qualquer abuso e quando um assunto tão delicado é levado à um Oscar por uma grande estrela e em uma performance tão intensa, o impacto é muito positivo socialmente.

Sem dúvida uma das apresentações mais forte em um Oscar.

Carolina Balza

Estudante de Produção Cultural, 23.

Se desconcentra no silêncio.

Ainda acredita na humanidade, mas prefere gatos e livros.

Vai de Alcione a Björk em um minuto.

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