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O mito da competição feminina


O mito da competição feminina

Dias desses estava conversando com um grupo de mulheres e falávamos de uma de moça em questão. Soltei um comentário: - ela é bonita, né? Logo uma das amigas que estavam na roda falou: - Mais ou menos, ela tem isso e aquilo... E depois outra: - é ela tem um osso acentuado no nariz! Logo o bate-papo virou uma busca incessante por encontrar defeitos na garota que poderiam ser qualquer um que contradisse qualquer elogio, nesse caso foi caricato por se referir a aparência física, mas poderia ser intelectual, sexual ou seja lá o que for... Fiquei refletindo sobre o assunto o resto do dia. O fato é que há dez anos entraria na malhação do Judas para encontrar defeitos abstratos, há cinco acharia o grupo em que estava um “bando de mulher mal resolvida que não entendem de nada”, mas hoje apenas penso: - Por que fazemos isso?

Sim, porque fazemos isso? A sororiedade (empatia/irmandade entre mulheres) é um dos assuntos mais debatidos no feminismo atual. As meninas com que estava não se autodeclaram feministas, mas o nosso hábito de apontar defeitos umas das outras está dentro da própria militância e enraizado no nosso dia a dia. A resposta para essa pergunta é simples: é uma questão sociocultural, e como tal é necessária uma desconstrução para percebemos que a competição feminina é uma grande falácia. Desde cedo somos educadas a competir umas com as outras, a procurar defeitos, a acreditar que não existe amizade entre mulheres. Basta ver os contos de fada: a rainha má que manda matar a outra por inveja da beleza jovial, a bruxa má que adormece a pobre donzela em um sono profundo, as irmãs “barangas” que trancam a outra para ir ao um baile por conta de um homem. Inclua aí os filmes e as telenovelas. Toda a nossa educação e nossos ícones são voltados para acreditarmos que a única saída para vencermos na vida é esculhambar a outra. Nunca li nenhum estudo mais aprofundado sobre as raízes e consequências desse mal, mas acredito que toda essa invenção de tradição foi criada para esconder o óbvio: que sociedades geridas por mulheres são extremamente evoluídas. Se fizermos uma breve análise em organizações matriarcais na natureza, como por exemplo, os macacos bonobos: as fêmeas se organizam e ajudam umas as outras a cuidarem dos filhotes e a organizarem os bandos, muito diferentes dos chipanzés (que possuem uma organização “patriarcal”.), no caso desse primata existe estupro e homicídio dentro da sociedade. Em comum, ambos possuem 99% do nosso DNA.

Grupos de mulheres tendem a serem mais organizados e solidários. Cometemos menos crimes, nos matamos e agredimos bem menos do que os homens.

Mas se intelectualizamos tudo isso, por que é tão difícil descontruir esse pensamento, mesmo nos espaços onde não deveriam existir? A resposta é complexa e creio que não há uma única resposta. O que sei pela minha própria experiência é que isso leva muito tempo e é uma desconstrução diária. Todo o dia é necessário pensar e refletir sobre aquilo que fomos educadas a acreditar, mas criar laços e uma rede de solidariedade e cooperação mútua é o primeiro passo para desconstruímos esse comportamento cultural, e sem essa de que o mundo é assim e sempre será assim blá blá blá... O mundo também já achou interessante queimar pessoas na fogueira, acreditar que a terra era chata e o sol girava ao redor dela e outros tantos paradigmas que caíram por terra. Posso até parecer utópica, mas acredito que a revolução já começou e que juntas somos mais fortes.

Josie Rodrigues

Escreve sobre futebol e coisas da vida.

Feminista e mãe de dois gatos.

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