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Shondaland, o reino das mulheres!

(Ellen Pompeo – Meredith Grey / Shonda Rhimes / Kerry Washington – Olivia Pope / Viola Davis – Annalise Keating)

[Contém spoilers se você não está em dia nas séries da nossa querida Shonda Rhimes]

Na última quinta-feira, 11, os Shonda Lovers entraram em colapso. Após o hiato de final de ano, as séries “Grey’s Anatomy”, “Scandal” e “How to Get Away with Murder” voltaram à ativa.

E como não podia ser diferente, suas protagonistas voltaram com força total. Em “Grey’s Anatomy”, Meredith Grey é espancada por um paciente, em “Scandal” o laço Olivia Pope e Mellie está cada vez mais apertado e em” How to Get...” Annalise se recupera – em partes – do tiro que levou e, como sempre, de forma genial, dá um jeito nas confusões todas e cria algumas novas.

Fato é que em todas as séries quem comandam são elas! Em “Grey’s” temos uma equipe enorme de médicos, residentes e pacientes, mas a cada temporada percebemos o aumento de personagens mulheres em cargos importantes do hospital, em situações que expõem os problemas cotidianos (há diálogos incríveis entre mulheres sobre racismo, homofobia, transfobia, a dificuldade da maternidade. Enfim, há uma preocupação em que todos os diálogos se baseiem em falar sobre homens e para homens como é bem comum) e comandando as mais difíceis ações no hospital. Em “Scandal”, apesar da trama girar em torno da vida do presidente Grant, tudo está nas mãos de Olivia Pope. A vida, a carreira, a campanha e até o casamento, tudo acaba sobrando para Olivia Pope, que apesar de manter um romance (chatíssimo, na minha opinião) com o presidente, não deixa que isso domine seu papel na história. E em “How to Get...” apesar de Shonda atuar apenas como produtora (a série é de Peter Nowalk), o viés do seu trabalho está muito presente. Temos a rainha Viola Davis, que dispensa qualquer apresentação, na pele de Annalise Keating, uma professora e advogada genial, emponderada, forte, mas que não deixa de ser humana. Ela erra, mente, engana, acerta, ama, odeia, cuida, enfim, é uma mulher como nós, possível.

Mas estou aqui para falar da mulher por trás dessas grandes protagonistas, e o nome dela é Shonda Rhimes, e hoje ela é uma das mulheres mais poderosas da TV americana. Suas três séries são exibidas às quintas-feiras no horário nobre, e são sucesso de crítica e audiência.

Shonda é negra, mãe solteira de três filhas adotivas e tem um corpo real, nada padronizado, nada escultural. Criada nos subúrbios de Chicago, foi qualificada por uma colunista do New York Times como “Uma mulher negra furiosa”. Ela diz:

“As coisas estarão melhores quando deixarmos de fazer essas perguntas. Quando não nos perguntarmos se está melhor a presença de mulheres na televisão ou quantas mulheres negras trabalham no meio”

E está aí a genialidade de Shonda, em não querer ter que levantar bandeira, em ter que diariamente se descrever como mulher, negra, de origem simples. Shonda quer tratar dessas questões com normalidade, quer que não seja visto como exceção ou acontecimento sobrenatural que pessoa de raça x ou y, orientação sexual x ou y, etc, tenha alcançado o sucesso, que ela não seja tratada com diferença, ou que suas diferenças sobressaiam seu desempenho como pessoa, humano. E em suas séries é isso que acontece, personagens de diferentes realidades convivem entre si e formam histórias que vão muito além de sua composição pessoal, eles fazem parte de histórias que aconteceriam com qualquer um.

Em recente entrevista à Robbie Myers, da revista Elle, Shonda falou sobre o panorama machista, estereotipado e pouco diversificado da TV americana.

“O mundo inteiro é visto da perspectiva do homem branco. Se você é mulher, eles dirão que é uma comédia feminina. Se é uma comédia com latinos no elenco, é uma comédia latina. Normal é homem branco, e eu acho isso ridículo e chocante.”

“Eu tive um crescimento bastante parecido com o de Olivia Pope. Eu estava tentando explicar isso [para o roteirista Zahir McGhee], há uma estranha crença de fora e também dentro das comunidades negras de que existe apenas uma maneira de ser negro. E eu sempre digo isso na sala de roteiristas – O meu negro não é o seu negro…Isso é tão danoso como outra coisa qualquer.”

(Maravilhosa. Aplausos!)

O episódio de volta de “Grey’s Anatomy” (12x09) inicia com a protagonista, Meredith Grey, em uma aula de anatomia, diante de seus alunos, quando ela faz uma pergunta e alguns levantam a mão para responder, eis que essa maravilhosa narração começa:

“Em reuniões, homens tem uma chance 75% maior de falarem do que mulheres, e quando uma mulher fala, é cientificamente provável que seus colegas homens ou irão interrompê-la ou falar por cima dela. Não é porque eles são rudes. É ciência. A voz feminina é cientificamente provada de ser mais difícil para um cérebro masculino registrar. O que isso significa? Significa que num mundo onde homens são maiores, mais fortes, mais rápidos… Se você não estiver pronta para brigar, o silêncio vai te matar.”

E o episódio termina com essa:

“Você tem uma voz, então use-a. Fale. Levante suas mãos. Grite suas respostas. Faça com que seja ouvida, não importa como. Apenas encontre sua voz, e quando fizer isso, preencha o maldito silêncio.”

(Mais aplausos!)

Se você não conhece Shonda Rhimes, procure saber. Há várias entrevistas ótimas com ela, vale muito a pena a leitura.

Abaixo deixo uma cena de cada série que me foi marcante, e que mostram um pouco do que escrevi aqui.

Grey’s Anatomy [racismo]:

Scandal [sexismo] :

How to Get Away with Murder [Viola Davis]:

Carolina Balza

Estudante de Produção Cultural, 23.

Se desconcentra no silêncio.

Ainda acredita na humanidade, mas prefere gatos e livros.

Vai de Alcione a Björk em um minuto.

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