As pretas dão trabalho
- Joice Aziza
- 28 de jan. de 2016
- 2 min de leitura

A ideia do amor afrocentrado é proeminente, se pautarmos sobre a solidão da
mulher negra,ressaltando também, que o casal (negros) saberá dos sofrimentos que
ambos passarão, ao longo da vida, devido a existência acentuada do racismo velado
à brasileira.
Nós, mulheres negras, passamos por processos de reconhecimento, de
autovalorização e empoderamento pessoal tão profundo, que chega a afetar os
homens negros e não negros. Que estavam habituados, com nossos cabelos
esticados, sempre para baixo, com nossas falas contidas, e de segundo plano.
Posturas sempre em alerta. Pois, estávamos sempre sendo observadas por olhares
julgadores. Tínhamos que nos controlar, para que não fossemos comparadas as
“mulheres barraqueiras”.
Hoje, não aceitamos mais os seus nãos. Tão pouco essa postura machista da qual
foram criados. Já não aguentamos mais nada calada. Nossas vozes saem alto de
nossas gargantas e já não são mais secundarias. Somos protagonistas de nossas
histórias e não meras coadjuvantes. Ganhamos visibilidade. Somos tão empoderadas,
que chegam a preferir às de cútis com baixa melanina. Ás de falas contidas. Sob a
alegação de que NÓS, mulheres negras, damos muito trabalho.
Escutei essa fala de um homem negro militante, quando o questinei sobre seus
envolvimentos amorosos interraciais. E essa foi a resposta que escutei: - As pretas
dão muito trabalho.
E de fato, ele está correto. Damos muito trabalho realmente. Não passamos pelo
processo de empoderamento pra simplesmente, reprimir sentimentos e deixar que
nossa presença passe em “branco”.
Então fazer discursos sobre amor afrocentrado, sem vivenciá-lo é muito raso.
Falar de amor afrocentrado sem ter como base a solidão da mulher negra é “chover
no molhado”. Pois mesmo nessa solidão, falaremos, gritaremos e escureceremos os
lugares por onde passarmos.
E se isso não te bastar, vá em frente em seus relacionamentos interrraciais.

Joice Aziza
Sou mulher, sou negra, ativista, mãe solteira, professora, sou arteira,
"poeta" (dizem, rs), mas a cima de tudo sou Guerreira.
O que tento, deixar nessas linhas simples, é um pouco de mim, não mais
guardado, engavetado ou só para mim. Registrando as mais diversas formas de voar, voar com Arte, poetizando minhas escrevivências.
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