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As mina de Sampa!

Penso que se a cidade de São Paulo fosse uma pessoa, seria uma mulher, com seus quarenta e

poucos anos muito bem vividos, tatuagens, uma delas seria aquelas de banda dos anos 80 que dá

uma certa vergonha de exibir por aí, mas que acaba sendo um charme. Cabelos compridos, jeans

e uma jaqueta. De gosto sofisticado, gosta de bons restaurantes, mas não dispensa a cerveja em

algum boteco copo sujo do centro na sexta depois do expediente. Dorme tarde, quando dorme.

Acorda cedo, segue o app de meditação que baixou. Workaholic, bebe, fuma, tem humor ácido

mas sabe ser gentil – quando quer. Enfim, São Paulo seria maravilhosa, e é, uma cidade incrível.

E ontem essa jovem senhora completou 462 anos de vida, em alguns momentos aparenta mais,

outros menos, mas ainda assim é uma delícia.

E foi do útero da dona São Paulo que artistas incríveis nasceram, e é delas que estou aqui para

falar, das “mina de Sampa”.

Música, cinema, literatura e artes visuais. Cultura. As que no passado (por vezes distante, em

outras nem tanto) abriram caminho nessa mata e conseguiram se firmar como mecanismo

essencial na engrenagem cultural da megalópole, até o “procure saber” dessa nova geração que

tem sabido aproveitar com maestria o caminho aberto e com ousadia e talento tem desbravado

ainda mais esse campo.

Música:

Rita Lee – Nascida Rita Lee Jones, na Vila Mariana, bairro tradicional da cidade, desde muito nova

se mostrava alguém a frente do seu tempo. Expulsa do tradicionalíssimo (e careta) colégio Liceu

Pasteur por ter colocado fogo no teatro, Rita Lee sempre soube ao que veio.

Integrou Os Mutantes junto com os irmãos Baptista e mergulhou fundo na Tropicália, era ela a cara

de São Paulo no movimento. “Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução...”,

cantou Caetano Veloso em “Sampa”.

Na carreira solo, se transformou em Santa Rita de Sampa, protetora das ovelhas negras. E

recentemente cantou, “eu gosto as pampa, das mina de sampa”.

Rita Lee fala sobre sua infância, SP, seus ídolos, visita o colégio em que estudou e otras cositas

más:

Tiê - Nascida em Perdizes, Tiê surgiu no cenário musical da cidade no final dos anos 2000. Fazia

parte dos chamados “Novos Paulistas” (com Thiago Petit, Tatá Aeroplano, Tulipa Ruiz e Dudu

Tsuda), movimento que deu uma chacoalhada na música paulistana, com a proposta de uma nova

roupagem, mais atual, à MPB.

Lançou seu primeiro disco em 2009, “Sweet Jardim”. Em 2011 foi a vez de “A coruja e o coração”.

No final de 2014 lançou “Esmeraldas” e em 2015 chegou ao topo de tudo com a faixa “A Noite”. A

música, versão de um sucesso italiano, foi tema de novela da Globo, emplacou nas rádios, foi

infinitamente baixada, a letra foi umas das mais procuradas na internet e figurou como legenda

reflexiva de muitas fotos no Instagram.

“A Noite” rendeu até indicação no prêmio Melhores do Ano, do Domingão do Faustão.

2015 foi o ano em que o Brasil conheceu “a nova paulista” Tiê.

Esquece “A Noite” e vem conhecer um pouco mais:

Cinema:

Laís Bodanzky

“Bicho de Sete Cabeças”! Pronto, ficou fácil ter noção da importância e

genialidade da paulistana Laís Bodanzky. Diretora do premiado – e incrível – “Bicho de Sete

Cabeças”, tem muito mais pérolas no seu currículo.

São dela também: Cine Mambembe – O Cinema Descobre o Brasil, Chega de Saudade, As

Melhores Coisas do Mundo e O Ser Transparente.

Além de diretora, roteirista e cineasta, Laís, junto com seu marido Luiz Bolognesi, realizaram a

partir de 2005 o projeto “Cine Tela Brasil”, em que um caminhão, com uma tela, faz a exibição de

filmes em regiões desse país que nunca antes receberam esse tipo de iniciativa. De forma gratuita,

sempre foi exibido um longa-metragem nacional.

As Melhores Coisas do Mundo:

Marina Person

Nem só dos maravilhosos programas “Metrópolis” e “Cine MTV” é feita a

paulistana Marina Person. Em 2015, a diretora estreou seu primeiro longa-metragem de ficção,

“Califórnia”. Ambientado na São Paulo dos anos 80, Califórnia conta o processo de

redemocratização pelo ponto de vista da jovem Estela (Clara Gallo). Com referências da cultura

pop, de David Bowie a Joy Division, o filme mostra os conflitos e incertezas da juventude, e tem

sua guinada na chegada do tio de Estela da Califórnia (interpretado por Caio Blat), muito magro e

com a saúde debilitada, a jovem tem que encarar as descobertas e mistérios da doença do tio,

além dos outros dilemas da adolescência.

Califórnia:

Literatura

Pagu

“Ah, a esposa do Oswald de Andrade né?”. Não! Muito mais do que isso, Patrícia Galvão.

Ela não nasceu em São Paulo capital, mas sim em São João da Boa Vista, porém, foi aqui que

começou sua carreira como colaboradora de um jornal de bairro, com o pseudônimo de Patty. Foi a

primeira mulher brasileira a ser presa política, no século XX. Sempre defendeu a participação ativa

da mulher na sociedade e política.

Em 1931 Pagu, junto com o marido Oswald de Andrade, funda o jornal “O Homem do Povo” em

apoio a esquerda revolucionária em prol das reformas necessárias. Em seus artigos, Pagu fazia

duras críticas às “feministas de elite” e os valores das paulistanas das classes dominantes.

Em 1933 Pagu escreve seu primeiro livro, “Parque Industrial”, e o lança sob o pseudônimo de Mara

Lobo, a pedido do partido comunista (ao qual era filiada). O livro tratava da rotina dos operários de

São Paulo.

Pagu durante toda a vida foi correspondente internacional de diversos jornais e sempre escreveu

sobre a realidade das classes operárias.

Foi, é, uma das mulheres mais importantes da história desse país.

Sheyla Smanioto

Guarde muito bem esse nome. Paulistana de Diadema, 25 anos, “Desesterro”,

seu romance de estreia foi vencedor em 2015 do Prêmio Sesc de Literatura, na sua edição que

teve recorde de inscrições. Antes disso já havia sido premiada pela peça “No Ponto Cego”,

vencedora do IV Concurso de Jovem Dramaturgos do Sesc em 2014, e pelo web documentário

“Ossos da Fala”, premiado pelo Rumos Itaú Cultural Cinema e Vídeo.

Quando “Desesterro” caiu nas minhas mãos, fiz o de praxe, li contracapa, orelha e foi impossível

não correr para as suas primeiras folhas. A escrita é intrigante e costurada de uma forma muito

única e gostosa de se ler. Recomendadíssimo.

“Desesterro” fala das mulheres, do abandono à violência sofrida, da pobreza e da solidão, saindo

dos clichês. Misturando realidade e sonho, humano e animalesco (como diz em sua contracapa), o

livro é um convite a uma viagem que necessita delicadeza e entrega em sua leitura, que flui e

delicia.

Artes Visuais

Nina Pandolfo

Nascida em São Paulo capital em 77, começou a grafitar nas ruas da cidade em

92. Foi uma das pioneiras da street art no Brasil, e hoje faz parte do grupo de artistas de rua que

conseguiu espaço para expor seus trabalhos em galerias de arte e museus.

Suas obras retratam em sua maioria mulheres e animais. Marcantes pelos olhos grandes e

expressivos, suas meninas são facilmente reconhecidas pelos muros da cidade (hoje muitas delas

já apagadas, mas é da minha infância a recordação de ir visitar as tias avós no Cambuci, bairro

tradicional de SP e ficar hipnotizada naquelas bonecas lindas e coloridas nos muros).

Suas pinturas já foram expostas no mundo todo e seu reconhecimento começou no exterior e só

depois chegou ao Brasil, mais precisamente em 2008, com uma exposição na Galeria Leme.

Em comemoração aos 20 anos de carreira, lançou o livro “Nina”, com uma seleção de imagens que

retratam sua trajetória.

Ryane Leão

Se você nada pelo centro, Paulista e arredores, é quase impossível nunca ter visto

um lambe lambe de autoria de Ryane Leão, idealizadora e realizadora

do projeto “Onde Jazz Meu Coração”.

“Quero seus demônios dançando juntos com os meus”

“Minha liberdade não te pertence”

“Sou um amontoado de feridas, recomeços, vontades, amores”

“Foda-se todo mundo que não acredita que você pode mais”

São alguns dos dizeres espalhados pelos muros da cidade nos lambes.

Atualmente Ryane faz parte do projeto “I (heart) São Paulo” (idealizado pela Heineken Up On The

Roof), em que frases sobre São Paulo são exibidas em pontos de ônibus e relógios espalhados

pela cidade, em comemoração aos seus 462 anos.

Carolina Balza

Estudante de Produção Cultural, 23.

Se desconcentra no silêncio.

Ainda acredita na humanidade, mas prefere gatos e livros.

Vai de Alcione a Björk em um minuto.

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