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Lá vem a chata

*Texto publicado na Fanzine #2 Kd Mulheres? http://kdmulheres.tumblr.com/fanzine2

Eu não costumava ser a chata, muito pelo contrario.

Vivia uma vida tranquila, amigona dos meninos, rindo de toda e qualquer piada, apontando e julgando algumas pessoas no meio do caminho.

Calma,eu não era a pessoa mais babaca do mundo. Nunca fui. Sempre tive um senso de justiça forte e uma tendência ao discurso. Sempre defendi o que achava certo.“A defensora dos frascos e comprimidos”, como brincava meu pai. Mas não escapei de fazer piadas e comentários julgadores.

Difícil encontrar o erro em coisas consideradas tão comuns no nosso dia a dia. “ É só uma piada”, e “ Ah! o mundo é assim e não vai mudar” são as frases mais ditas para pessoas que tentam problematizar coisas tão arraigadas na nossa sociedade e em nossas atitudes.

E seguimos a vida. Deixar tudo como está é muito mais fácil. Rir em vez de reclamar da piada te torna muito mais simpática e agradável na rodinha de amigos. Mas o tempo vai passando e aprendemos certas coisas (ou pelo menos deveríamos), estudamos outras, observamos mais algumas e, o mais importante de tudo, pelo menos pra mim, lembramos de outras tantas e tão importantes. Coisas que vivemos e nos culpamos, nos calamos ou achamos que é melhor deixar pra lá porque, como já disse antes, aprendemos desde muto cedo que “ a vida é assim mesmo”.

Com o tempo, eu aprendi a me importar muito menos em agradar aos outros, em ser uma pessoa querida pela maioria e muito mais em ser a pessoa que quero ser. A pessoa que sou. Com todas as lutas, opiniões e bagagem que acumulei até aqui.

Não me lembro o dia exato que comecei a ser a chata. Mas lembro de um dia estar bar conversando com um grupo de amigos e alguém soltar um: “Nossa, puta papo chato de feminista, Camila. Para com isso! É só uma piada.”. Até então,evitava conflitos. E, principalmente, evitava essa palavra. Era uma palavra tão carregada de conceitos e preconceitos que me assustava. Não porque eu tivesse medo do que os outros iam pensar, mas porque não me achava digna de usa-la. De me colocar no meio do balaio de tantas mulheres que eu admirava. Achava que eu precisava comer muito mais arroz com feijão, estudar muito mais, passar por uma especie de teste, salvar o mundo e, só depois de tudo isso, poderia ter a honra de me tornar uma delas.

Mas ali, na mesa daquele bar, eu entendi que ser feminista é uma questão de ser, de passar por certas coisas, de querer melhorar, de não aceitar que o mundo é assim, sempre vai ser e vamos deixar tudo do jeito que está. Resumindo: uma questão de lógica.

E aí não tive mais medo de não agradar. Sim, é isso que eu sou - respondi - E não, não vou parar!

E não parei mesmo. Só continuei. Li mais, discuti mais, discursei mais. É comum ter gente que pense “Ihhh lá vem a chata com o papo chato”. Mas eu não ligo. Aceito ser a chata numa boa. Com muito orgulho.

Até porque, hoje em dia, minha mesa de bar só tem gente incrível que, mesmo quando não concorda comigo, argumenta, opina, briga, pede mais uma cerveja, repensa…

Enfim, minha mesa de bar só tem gente me chama de chata quando digo que vou embora mais cedo porque estou cansada e não quero mais beber.

Mila Coutelo

Idealizadora do Fala Dela e roteirista.

Tem a pretensão de mudar o mundo...nem que seja só

um pedacinho.

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